segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Solidão

Porque uma cama de casal se durmo sozinho
Porque meus pijamas de seda se não os tenho para quem tirar
Porque minhas poesias se para quem escrevo não as escuta
Porque cuidar com tanto carinho do meu jardim se não tenho para quem dar as flores
Não sei se isso vai resolver ...
Mas a cama de casal trocarei por uma de solteiro
Os pijamas de seda trocarei por uns de malha
As poesias servirão para aplacar a minha solidão
E as lágrimas servirão para molhar o meu jardim
Quem sabe um dia encontre alguem que queira receber minhas rosas.

Jorge Cientista.

Um comentário:

  1. Oi Jorge...
    Fiquei pensando em algo que pudesse compor essa sua poesia, lembrei-me desses versos da Adélia Prado pra na verdade contrapor a sua poesia...rs
    espero que goste, pois, para não vivermos a solidão, precisamos insistentemente lembrar do que é e como é bom dividir com outros o que temos de melhor.


    Casamento

    Há mulheres que dizem:

    Meu marido, se quiser pescar, pesque,

    mas que limpe os peixes.

    Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

    ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

    É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

    de vez em quando os cotovelos se esbarram,

    ele fala coisas como "este foi difícil"

    "prateou no ar dando rabanadas"

    e faz o gesto com a mão.

    O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

    atravessa a cozinha como um rio profundo.

    Por fim, os peixes na travessa,

    vamos dormir.

    Coisas prateadas espocam:

    somos noivo e noiva.


    Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.

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